Descrição de um dia qualquer II
Desponta-se o sol por entre as nuvens,
ainda carregadas por causa do frio.
Agasalho-me vou para a rua.
Na rua que frio que nada!
Dentro de casa era mais.
Vejo novas pessoas,
pessoas novas e velhas.
Reencontro quem eu quero,
e quem não quero.
Brinco e rebrinco com as palavras.
Chego e me acomodo.
Pensamentos dispersos
não descansam jamais...
A mais, a menos, igual...
Antes seja tão normal.
Toca o telefone, era engano.
Mas que burrice,
acho que se tem mal de Parkinson
quando se está discando.
Fico a tentar me concentrar...
estudar, estudar e estudar.
Hoje Física e Biologia,
amanhã, História e Literatura.
Farão parte dos meus pensamentos,
revoltas: Inglesa, Francesa e Industrial...
quem matou quem na revolução e coisa e tal.
Robespierre, Napoleão, Stuarts,
Tudor, Cromwell, Elizabeth...
Na Literatura, téte a téte...
Parnasianismo, Romantismo, Indianismo,
Livros, contos,
Literatura brasileira,
poetas consagrados
como Drummond e J.G. .
Que maravilha,
estou entre navalhas.
Ou me afundo,
ou me afundam...
Ou me dedico, ou me retiram...
Seria loucura ignorar,
e se não continuar
iria me ocultar.
Ocultar, ficar quieto,
preciso telefonar, gritar, falar.
O falatório na esquina,
incomoda...
Queria tirar esses sons dos meus ouvidos
e dar margens a sons lindos
como...
Morcegos, passarinhos da noite,
que cantam por ai...
Em arvores seus ninhos
filhotes pendurados, esculachados
com uma ira no olhar e sangue nos dentes.
Carros, motores, pneus que cantam
uma musica sem harmonia.
Sinfonia, estrela- guia, ironia,
era isso que eu queria...
estar em sintonia com quem amo...
e sonho, e espero todos os dias.
Noite e dia, madrugada enfim,
orgulho dilacerado que na noite pus em fim.
Coração latejando,
de ódio, saudade e medo...
Tudo passa, tudo escrevo.
Ninguém lê, ninguém dá os parabéns,
pois bem,
um dia alguém irá ver,
o meu talento jogado nas paginas,
dos jornais, revistas, quadrinhos,
que falarão nada com nada,
absolutamente nada!
Nada é assim que estou.
Resumido ao pó,
de onde veio Adão...
do barro, barrento, nojento
que escorre pelos canos
até o esgoto.
Lá, ratos e baratas
insetos e fezes,
detritos, latas e lixos
e ainda mais
pedaços de papéis
que um dia escrevi e os joguei por aí.