Descrição de um dia qualquer III
A lua com o seu clarão, ontem admirei.
As estrelas passeavam no céu,
e eu, num véu negro, sentia um aperto,
que no peito nascia e me dizia,
o quanto ainda terei de passar.
Bolas! Passarei por mais quantas?
E de tantas em tantas deixarei
ao léu, o meu véu negro.
O negro véu de luto,
que no mundo há...
Que há em minha vida
que jamais houve poesia
e de apenas ironia sobrevivia.
E que passado eu tive?
De quantos amores deixei?
Por quantos braços passarei?
E quantas bocas beijarei?
Sem harmonia as minhas canções
passam de mão em mão.
De tantas rimas mal feitas,
minhas poesias são esquecidas até por mim.
Sendo assim enfim, o que fazer?
Tudo quando mal concentrado estou
dispersa-me e nada me interessa.
Numa vez foi a porta.
Noutra o falatório na esquina.
Agora o pinga-pinga de uma torneira
que parece fazer tic-tac,
contando os segundos do relógio
que não param de passar.
Esse pinga-pinga, quantas vezes...
acordou-me, quantas vezes me dispersou.
Quantas vezes fui lá apertei,
mas de nada adiantou...
o pinga-pinga continuou.
como já não bastasse
o vento frio me faz lembrar das noites,
que sozinho me punha a escrever
enquanto fumava um cigarro
que me esquentava por dentro
que me mata por dentro,
que me enegrece por dentro,
e que não me canso de pitar.
Aquelas noites, que sentado em frente à máquina,
digitava meus poemas,
com um balde de café do lado
e como um eterno namorado
cartas e mais cartas escrevia
e rasgava e jogava e não lhe entregava.
Tudo passava, todas em vão.
E jogadas aos cantos o que sobrou
foi o sentimento de todo poeta
a SOLIDÃO!