Visão

Eu moro no terceiro andar.

Vidros escuros e entreabertos,

Luz apagada...

Só para te vigiar.

Mas você percebe

E nem se espanta.

Faz caras e bocas,

Vai tirando a roupa, branca,

Que já mostrava tudo.

Os sapatos,

Ah, esses você arremessa...

Senta-se no sofá com as pernas longas,

Leves e lindas, sobre o manto amarelo.

O próprio pecado.

Acende o cigarro,

Fálico e fino,

Melado de batom vermelho.

E fitando-me pelo espelho,

Como quem aguarda o fim da minha visita

Só adormece quando fecho a janela.

Silvia Arcoverde
Enviado por Silvia Arcoverde em 17/10/2006
Reeditado em 18/10/2006
Código do texto: T266709