INCESTO

Nascido filho de um incesto,

tão torto e já quase morto,

arrasto-me; prá andar não presto.

Parido daquela mesma magreza,

engulo sempre mesmos restos

e sobrevivo vasculhando pobreza.

Sofrido, por muitas, tantas dores,

esbarrando em sombrios desgostos

do adeus daqueles muitos amores.

Perco-me assim, escura alma vazia,

orfã de quem não mais me quis

e que nas auroras tristes, tardias,

parido filho que eu mesmo fiz.

Riva
Enviado por Riva em 17/10/2006
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