Vergonha

Nesta noite

que tapa os meus olhos,

em que a lua me seduz,

nua, pura e cheia de vaidade,

escondo a vergonha

na penumbra da sombra

cansada pelo céu negro,

viajante,

e pego em tudo, como nada,

e seguro no tempo que voa,

incapaz de subir as escadas

de cimento frio, áspero, rebelde,

num pé só.

O desdouro dura como a terra encharcada de vento,

ao relento,

no dia cinzento de pó.

E o pó, como brisa,

encanta o Homem,

vaidoso como a lua

e rebelde como o chão,

e a infâmia desdenha o perdão,

como um gesto nulo,

distante, incapaz.

E pulo

e tento alcançar a lua,

despida de valor,

correndo

ao calor gelado de um actor.

Outubro de 2003