SUJEIÇÃO

Ah ópio, ah morfina, oriente

Do meu ser, as espirais do incenso

Não me dizem a quem pertenço,

Onde o outro que está doente!

Reconheço a beleza, e também o seu fim...

E vou pela noite sem madrugada...

E embora a lua seja falcada

Bebo-lhe da luz, como cisão em mim.

Incógnito sorvo o último fresco outonal.

Grifos, algo me chama, fugaz...

E entre papoilas, rubro corpo, lilás,

Deito-me por sobre o gume virginal.

E sinto-me doente de tanto sentir.

O contrário deixa-me como à morte.

Ai, mas se esta é a desdita da sorte,

Porque me acho então a sorrir?!

E sob sedas e os tapetes persas,

Fulva espada rasga a polpa,

E o fruto ofendido jaz líquido na roupa,

Aonde se me perdem as promessas.

Ó ilhas, ó tormentos, diz-me, amada,

Por ora são só lamentos, e os dias…

Caminhavas a meu lado? Que vias

Tu deste pouco mais que nada?

Ai! a novidade do desconhecido!

Que néctar é este que me inoculei?

Estradas de onde não voltei,

Meus passos marginais e sem sentido.

Jorge HUmberto

in Saiu A Fera De Mim

Jorge Humberto
Enviado por Jorge Humberto em 16/11/2006
Código do texto: T292956