PONTE SOBRE O TEMPO

Um vento levíssimo

Enverga as hastes que sustentam o silencio

A brisa sutil, intermitente, corria, despenteando a relva

Ao longe uma garça se exibe alvejando a tarde,

Um balé em câmera lenta

Suas asas se esgarçam sobre a realidade submersa do dia

As horas são vagarosas e patinam no lodo escorregadio das pedras

Nos galhos do mamoeiro, uma salamandra descuidada cochila

Sua pele da mesma cor do galho a faz despercebida,

Meus olhos, antes tão perfurantes

Agora são faróis enfraquecidos nas vidraças da vida,

Testemunham o simétrico fluir do tempo

Nos passos assimétricos da natureza

Tudo segue seu curso predeterminado,

O dia avança, fechando as pálpebras do dia, suavemente

Abre-se a entrada da noite sem rumo

Como uma mariposa descuidada

Como se alguém fechasse de repente as cortinas do quarto

E assoprasse a luz da vela sobre o aparador

A noite é sempre misteriosa, ela ocupa seu espaço

Sem explicações nem olhos,

Eu sinto seu hálito e seu beijo, nos planos do meu rosto

Não é um beijo de amor é um beijo de quem já me conhece

E apenas me saúda

Enquanto o tempo escorre...

La fora, os vaga-lumes, estas pequenas estrelas faiscantes

Que evocam na brevidade do seu brilho,

O despedaçar dos sonhos,

Riscam inutilmente de luz,

As paredes escuras da minha alma!

Celio Govedice
Enviado por Celio Govedice em 06/08/2011
Reeditado em 23/02/2024
Código do texto: T3143019
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