Negras nuvens de rancor

Libertei as borboletas cores vivas

Das imediações de minha alma um pouco sonolenta

Só pelo prazer de estar soltando-as

Para vê-las voar bem alto e longe de meus olhos

Inteiramente sozinhas para que pudessem sonhar

Enquanto isso um nó na garganta veio me salvar

Esse tropeço em alvoroço lembrou-me das possibilidades

Tão indefesas que a vida faz ao tirar os carecidos

Carinhos cansados de alguém que já não tem vida

Que morre sozinha pouco a pouco sem ar

É o lamento das interpretações de uma existência

O último suspiro que eu vi soltar

Debruçando em profundas e coitadas lágrimas

Sem o corpo, sem o poder de ter ao lado o amor;

Do único filho que já sonhou no fundo do mar

Subiu em mim um rancor, uma raiva;

Queria bater na face dos cruéis e desumanos

Que tão friamente esqueciam-se de que tinham também filhos

De que um deles poderia estar morto no mesmo instante

Infames seres!

Exausta, inteiramente morta!

As águas do mar estarão para sempre marcadas

O céu que reflete a imortalidade tão suprema

Ficou sem espelho diante da alma perversa e humana

Vergonhosamente as nuvens negras se acostumaram.

Lady Sophia
Enviado por Lady Sophia em 21/12/2006
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