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Meia-noite, agora...
Mas, que importa a hora
Se o tempo é eterno?
Que importa a porta,
Se o caminho é longo
E termina no inferno?
Na TV, não passa
Mais nada de novo
Nessas altas horas...
Estou só na vida
E ela me convida
Para ir embora.
Meia-noite, agora...
Se eu for embora
É tarde demais?
Tubarões esperam
Que eu caia da tábua.
Mas, e se eu pular,
Terei o mesmo gosto?
Isto posto, prossigamos,
Que a hora dos demônios
Ainda não chegou.
Não há nada mais cruel que o silêncio
Corroendo as horas,
Corroendo a noite
E o meu coração.
Vida silenciosa
Sem gritos de guerra,
Sem terçar de ferros,
Sem janelas estilhaçando,
Sem cães uivando para a lua...
Meia-noite agora...
Mas, e lá fora,
Que acontece?
Quantos há, lá fora,
Mortos ainda vivos
Presos no silêncio?
Que falta me faz
Um ronco de motor,
Um grito de socorro,
Um gesto de amor
(E a espada do Zorro?)...
Preciso de ondas
Que venham rebentar em mim.
Preciso de vento
Que passe assoviando
Uma canção de antes.
As minhas raízes já viraram pó
E ainda não dei frutos
Para os pássaros
De amanhã.
Lorazepam,
Biperideno,
Risperidona,
Quinze dias de atestado...
E o resultado?