DESORDEM (REED)

Olho o pé de sapato no canto do quarto em desordem.

Os livros dormem seu sono...

Sopro a poeira do peitoril da janela,

debruço para olhar a vida que passa adiante.

Noite fresca.

O mundo comemora a morte de Osama Bin Laden...

Um cachorro late num cumprimento,

As torres agora são de cimento e histórias.

Hoje só se falou disso!

O sapato solitário me olha gasto de espanto.

Desordem mundial,

nova era glacial

Derrete iceberg,

Tsunami,

Terremoto,

Enfarte,

Derrame,

Loucura,

Debruço na janela, talvez por ela passe a cura.

Uma nuvem vem com cara de chuva,

a uva pula da mão, caí na calçada.

Foi suicídio ou sucidada?

Foi só um descuido,

o cão fuçador cheira a uva morta,

me olha na janela acusador,

deita na calçada velando a uva.

A nuvem com cara de chuva começa a chorar,

tamborila no asfalto, suas lágrimas ensopam

as roupas do varal vizinho.

Os livros dormem na poeira dos tempos.

O sapato olha para baixo da cama a procura de companhia...

Que desordem esse canto da minha vida!

Bicicleta sem ciclovia, sem freio, perigo, desespero.

Da janela não sei se eu pulo, ou se desço.

Bin Laden dorme no fundo do mar,

Jaz a uva velada pelo cão na calçada.

Calço o sapato,

saio um pé descalço mancando pela casa...

Espantando a solidão do sapato...

Colocando ordem no quarto.

Laura Duque
Enviado por Laura Duque em 26/11/2011
Reeditado em 15/09/2015
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