O culpado

A gente morre a cada maldito instante

Sem saber o que acontece

Com remédios ou sem

Pensando nas coisas que fizemos

Ou de olhos fechados

A gente morre como nos filmes

Rápido na multidão

Tendo um ataque do coração

Ou aos poucos na calçada

Com um corte de faca

A gente morre escrevendo obituários

Temos o cheiro da morte

Os animais nos evitam

Então os parentes choram

Depois nos mandam flores

A gente morre nos porões

Antes,durante e depois dos interrogatórios

Somos a razão das dúvidas

Somos as forças ocultas

Somos a ameaça aos poderosos

A gente morre nos noticiários

Nas manchetes jornalistícas

Vítimas de acidentes aéreos

Destroçados por carros sem controle

Atingidos por balas perdidas

A gente morre nos braços da amante

Envenenados na sala de jantar

Queimados nos incêndios

Ouvindo sentenças nos tribunais

Dos cumpridores das leis

A gente morre sozinho

Dentro das quitinetes

Jogados em casas de repouso

Abandonados nos albergues

Esquecidos debaixo dos viadutos

A gente morre nos bastidores

Chifrados por touros

Sonhando com anjos

Dormindo na banheira

Esticando as pernas

A gente morre fulminado por raios

Na portas das catedrais

Orando para árvore da vida

Cantando para um Deus surdo e vingativo

Senhor dos campos de Ur

A gente morre nas palavras

Dentro dos livros de bolso

Consturando meias verdades

Contruindo mentiras políticas

Vendendo pão e peixe

A gente morre demolindo o tempo

Esquecendo a quem se ama

Partindo para um lugar distante

Renegando os filhos

Pulando dos abismos

carlos assis
Enviado por carlos assis em 12/02/2012
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