O culpado
A gente morre a cada maldito instante
Sem saber o que acontece
Com remédios ou sem
Pensando nas coisas que fizemos
Ou de olhos fechados
A gente morre como nos filmes
Rápido na multidão
Tendo um ataque do coração
Ou aos poucos na calçada
Com um corte de faca
A gente morre escrevendo obituários
Temos o cheiro da morte
Os animais nos evitam
Então os parentes choram
Depois nos mandam flores
A gente morre nos porões
Antes,durante e depois dos interrogatórios
Somos a razão das dúvidas
Somos as forças ocultas
Somos a ameaça aos poderosos
A gente morre nos noticiários
Nas manchetes jornalistícas
Vítimas de acidentes aéreos
Destroçados por carros sem controle
Atingidos por balas perdidas
A gente morre nos braços da amante
Envenenados na sala de jantar
Queimados nos incêndios
Ouvindo sentenças nos tribunais
Dos cumpridores das leis
A gente morre sozinho
Dentro das quitinetes
Jogados em casas de repouso
Abandonados nos albergues
Esquecidos debaixo dos viadutos
A gente morre nos bastidores
Chifrados por touros
Sonhando com anjos
Dormindo na banheira
Esticando as pernas
A gente morre fulminado por raios
Na portas das catedrais
Orando para árvore da vida
Cantando para um Deus surdo e vingativo
Senhor dos campos de Ur
A gente morre nas palavras
Dentro dos livros de bolso
Consturando meias verdades
Contruindo mentiras políticas
Vendendo pão e peixe
A gente morre demolindo o tempo
Esquecendo a quem se ama
Partindo para um lugar distante
Renegando os filhos
Pulando dos abismos