BELA CRIATURA

BELA CRIATURA

Ofereceu seus olhos às lagrimas,

Seu peito para o soluço amargo,

Sua boca para o nome incompreendido

E despiu-se.

Suas roupas eram pesadas demais

Para a fragilidade do momento.

Vestiu-se de margaridas

Para afastar os espinhos da rosa.

Ouviu Madonna

Para sentir-se menina.

Ana Carolina no seu ouvido

Soava uma rebeldia

Que a fazia esmurrar

O saco de areia da sala.

O suor escoria-lhe pela fronte,

Os cabelos grudados na nuca,

Os olhos semicerrados,

A testa franzida;

Era o retrato de um furacão arrasador.

- Bela criatura! Sei!

Era a frase compreensível,

Era o vomito interior

Que expelia toda sua bílis.

Sua vontade era acertar o gigante Golias

Com um só golpe certeiro.

Eu como expectador,

Deixava o tempo correr.

A bela criatura transformou-se

Numa montanha de ira.

Precisava descarregar toda essa adrenalina nociva.

Não lhe lançava sequer um olhar

Nem a impedia dos seus pensamentos.

Já fui protagonista dessa cena.

Sabia que a bela criatura prevaleceria

Sobre o monstro que urrava.

Mesmo assim eu amava a bela criatura.

Era seu momento,

Tinha que respeitá-lo.

Dentro de mim, lutava para a volta

Do que eu observava e não gostava.

Gostava da mulher bela criatura.

Rogava-lhe orações,

Pensamentos de vitoria

Sobre o momento crucial.

Ela me pediu para que eu permanecesse ao seu lado

Que eu ficasse num canto

Onde ela não pudesse me atingir.

Porque sempre depois de uma bateria de socos

Ela me olhava com olhos lancinantes

Com um fundo de doçura,

Como me dizendo:

- Eu volto, só me dê um tempo!

Tempo; era tudo o que eu tinha,

Era o presente que eu tinha condições de lhe oferecer.

Di Camargo, 14/02/2012

Di Camargo
Enviado por Di Camargo em 14/02/2012
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