ECLIPSES DA MADRUGADA
Juliana Valis


No raio da madrugada,

Eis o eclipse das emoções loquazes !

Além do êxtase desta cilada

Chamada insônia, em doses tão vorazes,

Fui condenada a não dormir...



E, de repente, vi o sol se abrir

Vi a noite transmutar-se em verso,

Perdido no êxtase terno e mais disperso

Desta lua que sempre zomba de mim

Na crua face do meu universo,

Inverso da lógica que desabou, assim,

Levando consigo estrelas e desilusões...



Ah, pobres corações !

Insones, loucos, famintos,

Sedentos de paixões,

Vorazes como são os ventos,

Nestes sentimentos desconexos

Que nunca dormem, nem dormirão

Neste colchão de estrelas,

Além das nuvens do coração,

Emocionadas por vê-las,

Cintilantes como as luas são,

Trôpegas no tilintar das horas.




Céus, quem me fez refém da insônia ?

Não sei quando ela me seqüestrou ali,

No planeta dos poetas loucos,

Só sei que o sol tentava me seduzir

E  os ponteiros cruéis e roucos

Apenas me prenderam na cela das desilusões...



Ah, pobres corações ! 

Pedem versos, mas têm tristeza

Pedem sonhos que o tempo brada,

Mas o  crucial arroubo da incerteza

Sempre algema os eclipses da madrugada !


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Quadro de Salvador Dali.

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