TRêS SONOS
O SONO
I
(pesam as pálpebras)
- Não me incomodem
Pois tenho sono!
II
- Quero cerrar os olhos
Remeter o que me aflige
Ao futuro que não existe ainda
III
- Um mau-humor incontrolável
(como vejo nas criancinhas)
Trai o peso em minhas pálpebras
IV
- Sinto como se se pusessem em lágrimas
(e babadas, e roncos, e peidos,...)
As fortunas de minha vida
V
- Quê, ó sono irritável,
Como catástrofe,
Iria impor-lhe adrenalinas?
VI
- Quê, ó sono lancinante,
Como sopros 'mais que fortes'
Iriam vencer ao que te faz pesar?
VII
- Ó sono indesculpável
Que me empurra em horas ermas a abismos infindáveis
E me dá um desanso (merecido)
O SONO II
I
Uma vontade que esgana
Para sair em correnteza
(acordado está o mundo?)
II
Um agito só e as cores
(talvez os sons e as pancadas)
Assumem-se como setas:
III
(setas apontam para algo)
Esse vetor da vontade
De que o real seja como se quer
O SONO III
I
Então o sono é, em mim,
Vontade de poder
(de ser, de escolher o descansar)
II
Ó vontade minha, irrefreável,
(talvez a única diariamente desculpável)
És bela pois imitas ao Sol:
III
Astro-rei cintilante
(do caos faz suas constantes:
aquecer, iluminar),
IV
Dia-a-dia retornante
(sem ninguém para invejar):
Metáfora que foge à compreensão diversa...