A essência da coisa

Eu a via com outra cara,

Com a cara que eu tinha pra ver;

Agora, a coisa mudou de cara,

Cara estranha, não é a que tiinha que ter.

Antes era de tudo um pouco:

A coisa preta, coisa séria,

Coisa muito louca, coisa feia,

Coisa linda, fofa da mamãe,

Papai, titio,vovô... sei lá; às vezes era até

Treco, coisa, tareco, trósso, negócio,

Geringonça, trambolho, algo, objeto;

Qualquer nome que não denomine.

Mas agora, o que era coisa,

Anda descoisificada de tal modo

Que Manuel de Barros diria:

-Perdeu a coisidade, descoisou todinha,

Alguém deu-lhe um nome e o nome levou

A essência, a liberdade

Da sua coisitude.

Porque a coisa, de repente,

Ou bem mais que de repente,

Arbitrariamente, ganhou um signo,

Portanto, não sou mais livre para chamá-la;

Sou um escravo da denominação compulsória

Descoisificadora que Levou a alma,

Significou e deu nome à coisa.

carlinhos matogrosso
Enviado por carlinhos matogrosso em 28/05/2012
Reeditado em 30/05/2012
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