COBIÇA

C O B I Ç A

Confesso essa cobiça por ti, confesso até a última gota de sangue essa cobiça por ti, derramo o suor abundante por essa cobiça por ti, e se preciso for, que a terra sugue todo meu sangue por essa cobiça por ti.

Não calo a ferida aberta que sangra, não consinto a acusação da razão que clama, nem a heresia de insinuar o pecado, pois és o pecado que eriça a pele, que corrompe a mente, que aniquila a vontade, és a maldita dona desse baixo ventre, que me atiça essa cobiça por ti.

Odeio a doença contagiosa dessa cobiça por ti, teu veneno arrogante escárnio do meu desejo, teu suplante sobre mim sem pudor, essa doença sem cura, sem sentido, que perece os sentimentos, e mesmo assim, sinto em dizer-te, não acaba essa cobiça por ti.

Insultas com tua beleza atrevida, cospes tua ira no meu rosto indolente, num instante, me negas, renegas a fonte do meu clamor, noutro, entretanto, tiras a roupa teu refúgio desnudo, entregas o corpo, a alma, a cura de possuir-te, mas mesmo assim, sinto em dizer-te, não acaba essa cobiça por ti.

Rasga o peito a dor essa cobiça por ti, clamo, chamo, imploro a navalha afiada na carne sedenta de morte; sangro, derramo a razão na demência da loucura, no meu desgosto, na minha angústia, na minha obsessão por ti; invoco a morte a minha cura de ti, mas mesmo assim, sinto em dizer-te, não há cura essa cobiça por ti.

(10.05.2002)

Semio Soares
Enviado por Semio Soares em 07/02/2007
Código do texto: T372558