Ópera dos Castiçais
a tanto
quanto
a tato
tempo
ou tanto
quando
o tempo
tento
não exito
não existo
não ex-isto
Enquanto (ré)plica do destino
Enquanto oponho à métrica
Trago à pérola pe(sonho) fino
Trapos
Qu’erros
Fumaça
Es-correndo
Aos d e d o s
Do sêmen a carência selvagem
Tu que casta
Ele que castiga
Eu que castiçais
Que trago a hóstia
Embebida ao vinho
Embevecida à ouro
Resplandecida às luzes
Da sabedoria encruada
Ontem tudo era pó
Amanhã tudo é pó
Hoje tudo será pó
No pentagrama que sobe
E desce e sobe e desce e
Desce e sobe e sobe e só
Em ex-calas do pó
Amanhã tudo será
O que hoje já foi
a tato
tento
há tanto
tempo
um tácito
momento
de intento
no sereno que caminho os anjos me peregrinam
avulto abrupto dos membros
seqüelas das tent’ações
ar-re-pio de mim (em)brião
que nasce
embrião que
cReSce
embrião
que morreu
vivo no mar
de minhas ilusões
ontem que vivi
e lutei com a morte e venci
onde feri a lança e bebi
do sangue do tempo
nas margens de todas as plantações
onde virei fera
e dissequei elegias de goethe
e servi-me das mitras
e flori pueris junquilhos
a cantos primaveris de
embebedados passarinhos
rente a leitos sis de tristes
riocilhos... no amor do sêmen
semente do amortecimento
amor que tece em ci... mento
apostei com o demônio e blefei
traguei da noite
e percorri o inferno à barca vicente
e atropelei as bigas de Nero
e vi pânzers nazistas
apontados aos canhões
napoleônicos guerra
e fingi o senhor da guerra
e gregório de matos guerra
à boca do inferno que
queima e que me arde
eu que castiçais
minerais e sais
da periódica cadeia
metais e grades de ferro
paixão que enleia
chama do fogo de Nero
que sim... incendeia
que me acerto e que me erro
no traço que enleia
que me registro e me enterro
em minha própria cadeia
de DNA
ervilha de Mendel
evolução de Darwin
expansão de Rubble
eu fóssil de mim mesmo
eu fóssil de você
relógio cinco minutos atrasado
ponto de ônibus
freio ABS
trem desgovernado
partícula de uma única
esfera, ex-fera,
ex-trago ou ex-turgo,
ex-passo ex-pesso
ex-tudo que um dia
já li, que desfruto
e apreendo
na lógica das coisas
outra coisa que coiseia eu
que primeira pessoa
do plural de todos
os tempos e modos
e vaidades e trens
que sempre partem
e que sempre chegam
à luz da aurora
no amanhecimento
das sombras e sobras,
de nada que zomba
nada que bomba
nada que clone ou
híbrido, eu que à libido
da ópera que soa
em meus tímpanos em
solos contínuos e distintos
a(travesso)
o tornado dos sonhos
desamortecido, despido
e tonto! Aaaaaaaah! eu que
célula tronco desfolhado
expurgado e tenaz
intoxicado, caibo tanto
numa gaveta, como
num gameta...
própolis do desconhecimento
ácido desoxirribonucléico
enxofre, hidrogênio
oxigênio e nitrogênio
que me eu
matéria orgânica
que sei diagramas
que vejo elétrons
e anéis benzênicos
que descobri a tabela
periódica num sonho
e que vôo
que vestígio
almejo em tato
tanto quanto
o tempo inato
eu sei que eu sou
incolor
inodoro e
insípido
não como água
mas sim como
parte de um único
espírito...