noite suja

acabei de vomitar.

o estranho é não ter bebido…

e a sensação de sanidade

que voa longe do alívio!

ah! noite terrível!

há dias em que é noite…

que é noite dentro, e é fria.

acabei de vomitar…

mas o que é que comi?

lembro-me ainda de me doerem as tripas

numa fome de fera, quase sanguinária!

há dias na gente…como há!

vêm monótonos, seguros e passam

mas, se calam e ouço num grito a dor.

acabei de vomitar.

e aquilo, no chão, imundo, é um pedaço meu.

sabe-se lá qual deles, estão todos imundos

um pedaço meu que se diluiu e botou-se (por si) fora!

esses dias…ah! a gente vomita.

dom de instinto, duma coisa indigesta que azeda a alma

e o corpo bota pra fora, que não se sabe o que é!

vomitei. Acabei de vomitar

nos meus pés repousa a mancha,

aqui dentro a ignorância é que o faz…

e a natureza me cala, puxando-me as tripas fora.

Vinicius de Andrade
Enviado por Vinicius de Andrade em 26/10/2012
Reeditado em 26/10/2012
Código do texto: T3954092
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