Loucura, Ignóbil loucura.

É não saber o que dizer,

Quando se afoga em palavras,

É não saber o que sentir,

Quando se embriaga em sentimentos.

Estes são os delírios da alma,

Os devaneios dos sonhos,

Quedando em lutas diárias,

E levantando nas noites.

É um sonambulo acordado,

De um sonho desesperado,

E no porvir da aurora,

Não ter dormido um segundo.

Eu sou um louco perfeito,

Não sei se sinto ou se choro,

Se tenho fome ou se sorrio,

Das coisas que me fazem dor.

Mas ser louco é sempre um alento,

Que justifica a ilusão,

Dizendo para nós mesmos,

Que é coerente a paixão.

Em meus delírios me grito,

Pra tentar me ouvir baixinho,

Por que não ouço a razão,

Que não me diz o que é justo.

Não acredito no amor,

Embora ame intensamente,

E sinto fogo nos olhos,

Dizendo: — Isto é perfeito.

Tantos disseram que sim,

Que paixão é sentimento,

Pá e Chão se combinam,

Enterrando os meus alentos.

Diz-me se tu não és louco,

E lhe devolvo as palavras,

Dizendo: — Tu não és louco,

Eu que não o compreendo.

Tu podes rir do meu riso,

Tu podes rir dos meus gestos,

Tu podes ignorar minhas certezas,

Mas elas são todas certas.

É a loucura Nietzschiana,

De meu intenso pensar,

E lhe dizendo tolices,

Vou-me deixando viver.

Loucura, ignóbil loucura,

Este meu mundo sereno,

Este meu tudo divino,

É tudo tão pequeno.

Sei lá! — Isto me parece uma loucura,

Dizer tão loucas palavras,

Tentando dizer tudo que sinto,

Neste magoado coração.

Se não sou louco, perdoa,

Queria ser mesmo um louco,

Pra não sofrer tanto assim,

Esta dúvida de enlouquecer.

Sou bruto feito a pedra,

Que fez a primeira chama,

No atrito com outras pedras,

Em seu brilho mais presente.

Esta loucura me enlouquece,

Quando não me deixa defini-la,

Não consigo decifra-la,

Não consigo esquecê-la.

Eu choro às vezes sozinho,

Quebrando meus cultos tabus,

De homem forte e temido,

De lucidez, deprimido.

Queria apenas escrever,

De dia, tarde e à noite,

Todos os meus loucos desejos,

Todos os meus loucos sentimentos.

Tinha uma flor que regava,

Que às vezes ignorava,

Um dia veio a murchar,

E o destino a levou.

Minh ’alma chorou cansada,

Mas as lágrimas não regaram a terra,

Eram salgadas demais,

Secou até a raiz.

Não sei que dia é hoje,

Não mais procuro saber,

Se for um dia perfeito,

Ele terá meu querer.

Esta loucura ignóbil,

Este pensar tão profundo,

Este sofrer sem limites,

Este é todo o meu mundo.

Loucura, ignóbil loucura