A PORTA DOS FUNDOS

Os ventos assoviam num uivo frenético na porta dos fundos da casa

As lágrimas sorriem jazendo mortas

As sombras tomam a cidade

As passadas tornam-se lentas

Eu vejo um bebê a chorar

Eu vejo um marginal a sorrir

As nuvens se escondem de sob o Céu

E então desairoso meu sentimento de liberdade se propaga

Quando começo a contar as estrelas como se fossem grãozinhos de areia

Perco-me como a vida que se me esvai

Tão pequeno quanto o Tempo de Planck, quanto à vida do múon, é o que me resta...

Vejo condores voando pelo Céu

Mas me lembro que não existem condores neste Céu

São as águias no vôo do renovo

Lá nas montanhas junto a um rochedo

Quando quebram seu bico e livram-se de suas velhas presas

Voam agora sobre minha cabeça rindo-se da minha dor

Eu me sento na calçada, a lembrar as riquezas e nobrezas do passado

Hoje meus olhos se embaçam

Com as lágrimas que fingem saltar meus olhos rosto abaixo

Digo adeus ao amor que não voltou

Despeço-me de um mendigo na esquina

E ali mesmo tombo, caio reflexivo

Sem saber o porquê da vida

Sem saber o porquê de sentir meus últimos suspiros

E perceber meu coração não bater mais

Depois flutuo pelo ar radiante (imagino o Céu)

Mas percebo que agora eu sou como o vento...

Com um uivar endoidado assoviando atrás da porta dos fundos

De um outro alguém...

jairomellis
Enviado por jairomellis em 20/03/2007
Reeditado em 25/03/2007
Código do texto: T419135
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.