A PORTA DOS FUNDOS
Os ventos assoviam num uivo frenético na porta dos fundos da casa
As lágrimas sorriem jazendo mortas
As sombras tomam a cidade
As passadas tornam-se lentas
Eu vejo um bebê a chorar
Eu vejo um marginal a sorrir
As nuvens se escondem de sob o Céu
E então desairoso meu sentimento de liberdade se propaga
Quando começo a contar as estrelas como se fossem grãozinhos de areia
Perco-me como a vida que se me esvai
Tão pequeno quanto o Tempo de Planck, quanto à vida do múon, é o que me resta...
Vejo condores voando pelo Céu
Mas me lembro que não existem condores neste Céu
São as águias no vôo do renovo
Lá nas montanhas junto a um rochedo
Quando quebram seu bico e livram-se de suas velhas presas
Voam agora sobre minha cabeça rindo-se da minha dor
Eu me sento na calçada, a lembrar as riquezas e nobrezas do passado
Hoje meus olhos se embaçam
Com as lágrimas que fingem saltar meus olhos rosto abaixo
Digo adeus ao amor que não voltou
Despeço-me de um mendigo na esquina
E ali mesmo tombo, caio reflexivo
Sem saber o porquê da vida
Sem saber o porquê de sentir meus últimos suspiros
E perceber meu coração não bater mais
Depois flutuo pelo ar radiante (imagino o Céu)
Mas percebo que agora eu sou como o vento...
Com um uivar endoidado assoviando atrás da porta dos fundos
De um outro alguém...