morbidez
acordou tarde hoje, faz tempo hein?
voz rouca, hálito matinal.
há sempre um novo idiota pra enganar
ou sempre o mesmo,
há sempre velhas feridas pra curar.
não vou negar - você me ajudou.
tem minha gratidão e nada mais.
pode me falar o que há de errado,
pode dividir suas chagas comigo.
a cegueira é a maior doença do homem.
meus frutos me rejeitaram,
meus discípulos me abandonaram,
meus filhotes fugiram,
meus pais se mataram.
eu vi,
eu ouvi,
eu senti:
a vida é a maior doença do homem.
...
não sei o que viu de engraçado nisso.
as folhas estão secando de novo,
as frutas de plástico apodrecem devagar,
[foi bom ser feliz]
mas há sempre o pós-felicidade
e nunca é uma felicidade maior.
vamos imaginar esse mundo assim:
eu sou meio quase nada,
pode passar por cima, pise, cuspa.
não sei o que viu de engraçado nisso.
as luzes vão se apagando trazendo o silêncio;
vai dormir tarde hoje, faz tempo hein?
o sono te faz esquecer os pecados;
amanhã será um novo dia.
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talvez a poesia mais auto-destrutiva que já fiz. um dia de domingo.