CONVERSANDO COM MEU CRIADO-MUDO

Enquanto os abutres voam no céu aberto

atrás de carniça para se alimentar

eu como minhas poesias trancado

no meu lar

Enquanto o girassol amarelo gira

nesse dia belo

eu viro de um lado pro outro

nesse quarto escuro

Enquanto as pessoas lá fora conversam

sobre tudo que acontece no mundo

eu no meu casulo pergunto tudo

ao meu criado-mudo

mas ele me ignora...

Escuto uma criança chorar

ela implora o leite materno

ela clama pelo colo e pelas

tetas da sua mãe

onde além do afeto

ele pode se alimentar

Eu fico aqui sozinho

sem carinho e sem afeto

bebendo um café amargo

numa velha caneca bolorenta

Os meliantes estão lá fora

eles esperam a noite cair

para atacarem suas vítimas

Eu também entro nessa estatística

pois a solidão toda noite

me furta , me rouba e ninguém

chama a polícia

Assim segue a vida humana

aqui dentro e lá fora

o amor , a beleza e a alegria

se misturando

com o ódio , a feiura e a tristeza

entre risos e choros

entre o êxtase e a dor

entre a sanidade e a loucura

Eu fico aqui trancado

do mundo fico isolado

longe de todos e de tudo

Escutando os passarinhos cantar

escutando o lobo uivar

enxergando o colorido no escuro

Conversando com meu criado-mudo