Dispersos

Quando houve o silêncio

Era o outono das palavras

Gestos desenhavam sentimentos

Ventos os levavam para longe.

Quando houve o silêncio

As folhas amarelas e semânticas

Esparramavam-se pelo chão

E ruidosas atrapalhavam a comunicação.

Quando houve o silêncio.

O ritual dos olhos percorria corpos, animais e paisagem.

As mãos frias suavam nervosas.

Era o impasse diante o segredo.

Decifrar o segredo, um desafio cotidiano.

E doloroso.

E se a mágica não se repetisse?

E se o encanto se acabou?

Somos apenas reles e mortais.

A morte nos brinda com estranha eternidade.

Ficaremos em cada coisa que tocamos...

Em cada palavra pronunciada...

Estampada na parede da sala...

No colorido das roupas...

no varal de roupa a flamular a corrida do tempo.

O tempo que a tudo evanesce

Estaremos presentes na ausência

Sentida, pressentida e esquecida.

Em nossos passos restaram nossas esperanças...

Em nossos escritos jazem

gritos sussurrando socorro...

ou simplesmente pedindo atenção.

Humanizamos tudo o que tocamos...

Coisas, animais, sentimentos...

Minerais, raios e satélites...

Giramos em translação e rotação.

Amarramos no cais os navios...

E soltamos as almas nos corpos...

Estranha nave decadente

Que a cada ano se depaupera.

Ossos se fragilizam.

Peles enrugam.

Cérebros pifam...

Inexplicavelmente a memória

ressuscita estórias guardadas...

Como um segredo tardio.

Quando humanizamos muitas coisas...

Morremos.

Deixamos de existir concentrado...

Para permanecer dispersos e ao acaso.

Dispersos, eternos e imprevisíveis.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 31/05/2013
Reeditado em 31/05/2013
Código do texto: T4318514
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