TEMPO DE ACORDAR

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abre os olhos

é tempo de acordar

ao dia que amanhece...

pois a tudo amanhece

o que dorme uniforme

e enaltece disforme

ao vaso que floresce

sem saber do raio

que alimenta seu sono...

então acorda

e ignora o não tétano,

até tamanho dedo

de sobra,

tudo pertence à obra,

o que quer que se veja

possui o signo

que lhe foi imposto

diante o rosto primeiro

que o percebeu,

seja ele crente ou ateu

atados foram os sentidos

e dados foram o número

certo de tiro inexato,

sem saber dos desejos

onde é que iriam parar...

é tempo de se amar...

é tempo de se armar...

e a tudo amanhece

e mesmo que cesse

tornaria antes que fosse

a gangrena que instiga,

que priva e que priva,

uma membrana que torna-se ogiva

minimamente explosiva

porém somadas a ínfimos

soslaios de raios desacordados...

somos máquinas

e não arados

puxados pela força motriz

desconhecida ao cabo,

somos tato, visão,

audição e olfato

e não o veneno gasoso

que penetra pelo nariz

formando o asco

abstrato escarrado

na bela caçada

ladrilhada à pétalas...

a tudo amanhece

mas também anoitece

no vácuo de tudo que acontece,

nos mínimos detalhes,

lhes são ares os bons

que provocam fome,

são também nomes,

são também donas,

crioulas e senhores,

fiel deusa

do seio intacto

depositária austera

do seu próprio oráculo,

um poema à sua sorte

em vernáculo e desordem,

fulgor e fatos,

sois aguçado corpo

em latrocínio

que despe a adaga

e despede a faca

à bainha da ingênua napa...

Ah! tênue manhã

que abraça a todos

mas não abraca a noite,

açoite terno de luz

a qual seduz aos olhos

em fraterno banho,

aconchego próspero

do medo medonho

de não retornar do sonho,

dai-nos um cálice de

perseverança

e um verso risonho de troco...

uma asa de pássaro

ao passarinho tristonho

e um sólido bloco

ao seu peito oco,

um pouco de alegria

ao palhaço triste

e um naco de cores

à sua roupa cinza...

ameniza os dissabores condoídos

dos seus mártires

cruéis e ídolos

por fascínio indeciso...