1996
Ter nascido me incomoda
Desde que me conheço por gente,
aí pelos seis anos de idade
Quando depois de muito brincar me sentava
e mirando meu olhar na parede questionava:
"E se eu não existisse, e se não tivesse nascido?"
Com aquele olhar penetrante, olhando o nada à minha frente
Ia embora uma tal personalidade
E nesse instante, despersonalizada,
Balançava a cabeça renegando a pergunta
e para realidade eu voltava
ou, acreditava que era a realidade até então
quando na verdade retornava ao meu mundo fantástico
E essas fantasias preenchiam a verdade da solidão.
Hoje, me sinto em 1996
Totalmente distante,
Revivendo os cheiros
Paranóias, receios e instantes
Distante de hoje, me perco
E o amanhã já não me importa
Nos corredores da morte eu corro
desesperada para a saída
e se fecham todas as portas de partida.
Não sei mais onde estou
E tampouco me importa.
Não adianta mais me encontrar.
Se morro - tenho medo -
Se vivo - estou morta -
Estou adormecida no vazio
De nunca obter uma resposta
- e nem quero -
Não quero morrer de verdade pois amo a vida,
Mas é que meu coração só se contradiz
entre a escolha do começo ou o fim:
Desejo estar aqui e continuar vivendo
Mas não quero continuar vivendo assim.