AVISTO À DISTÂNCIA OS HOMENS COM SEUS ÓPIOS
avisto à distância os homens com seus ópios
chapando-se com seus ternos e seus óculos
e seu papel executo convertido em cifra
e suas mulheres devassas a servir de isca
avisto ainda seus discursos demagogos
em fúria histérica diante seus psicólogos
que corrompem seus ídolos e destroem sua imagem
que chamam seus filhos a provar da mesma silagem
e ouço todavia os filhos destes homens
aos prados em prato de prata que cospem
consumindo da mesma heroína barata
pela cega avenida argêntea e abstrata
enquanto às salas suas mães idolatram suas bolsas
compradas em alguma butique chique da França
antes de trepar com seu gigolô barato
por um naco de gozo e tato
e enxergo-me ainda no espelho
que reflete a cocaína adentrar pelas mirras narinas
procurando evasão às costas da próspera família
como o rato clandestino que és às púrpuras
lanças que em teu peito adentraste
desde os dias negros em que adoeceste
perante o nojo e revolta que engloba
toda esta tribo composta por idiotas
a lépidos intervalos cremados
no velório funério de qualquer trapo,
ah! adúltero intrépido, tumor de tétano,
sois safira escondida ao bolso furado
misturada ao suor escroto que ao lado balança
da ilusão destilada no reino que não se alcança
à merda filtrada da trágica droga
que traga a fome e draga a doença...
avisto ao longe os arrebóis do campo
e as árvores com suas copas balançando
ao vento que desbrava todo fedor urbano
e refresca a testa de toda insensatez humana
corre lebre ligeira, corre...
enquanto as pernas lhe forem estreitas
que por detrás do esterco que aduba a cerca
existe um menino correndo a uma esteira
e enquanto ele cresce coleciona peles
e enquanto adoece procura culpados
e depois que adormece sonha e tece
pelotões de pestes lutando atrelados
à dor dos homens pela egoística febre
pela estatística que enumera os pobres
pelo exame de balística que o perito
esconde diante a propina que lhe paga o conde
e vejo ainda policiais corruptos
cerceados por militares estúpidos
e mercenários enriquecendo
a lázaros moribundos medicados por abutres
e à calçada suja vejo estirada
a ética manchada com sangue próprio
e apunhalada pela doutrina ignóbil
da tétrica escola míope sem óculos
e cegos e surdos e mudos
e imundos aos quatro cantos do mundo
e profundos lixos soturnos no submundo
dos grupos que compõem todo absurdo
avisto à distância os homens com seus ópios
chapando-se com seus ternos e seus óculos
e seus papéis invertidos dentro da seita astuta
procurando o grito da angústia que não se escuta
e antes da missa na sacristia
o padre prepara o sermão
regado a “vinho do bom” e vadias
pagas pelo dinheiro que entrar na caixinha
e sinto o cheiro podre da verdade
misturar-se ao fedor da patente
que queima em nossos ouvidos em calor latente
crente que o nexo seja papel de higiene
e sinto a dor no peito que fibrila às veias
e comprime as vísceras no seio que estala às vistas
e sinto o gosto amargo que amortece a língua
na diminuta mensagem que treme à míngua
no âmago prolixo e exato
que figura o quadro ingênuo do artista
em cores profundas de teor abstrato
correspondente a instinta morada idealista