DE VEZ EM QUANDO...

De vez em quando...
Eu fico meio estranho,
Aquele “eu” insano,
Que habita dentro dos “eus”,
Aumenta de tamanho,
E dá uma vontade danada,
De desencaixotar a vida,
Há tanto tempo comprimida,
Dá uma vontade despudorada,
De tocar nas feridas;
Desvendar os segredos,
Desafiar os medos,
E deixar o “bicho pegar”,
De acabar com os enredos.
De vez em quando...
Bate em mim uma vontade,
De ignorar o certo,
De fazer tudo errado,
De “adverbiar” o concreto,
De “sujeitar” o predicado,
De trocar os pés pelas mãos,
De falar pelos cotovelos,
De andar na contramão,
De arrancar os cabelos,
De não ter vergonha na tez,
De soltar um palavrão,
De ser meio “Tom Zé”,
De desarticular o cerebelo.
De vez em quando...
Dá esse repente,
É uma inquietude que a alma sente,
Uma vontade de estourar,
De liberar o “eu’ insano”,
Contido há muitos anos,
Por baixo dos meus panos,
E revirar literalmente o cotidiano.
De vez em quando...
Dá mesmo essa vontade;
De permitir a entrada triunfante,
Do “eu” louco;
“Em frente e avante...”!
De permitir que ele dê o troco,
Que ele roube a cena.
Não faço nada disso;
Que pena!
Tudo continua como antes,
E a vida segue encaixotada...
Calma tranqüila e serena.