A revelação dos segredos

Em certo dia incerto

Os segredos saltam das tocas.

Tinham a cara do cinismo

E o sorriso de todas as quimeras.

A maioria deles estava

Escondida nos falos e nas falas.

Nos talos e nas talas;

Tanto nas pequenas e estreitas

Como nas rotas e alargadas,

Que eles mesmos chamaram de

Cavalas e enganosas, cabalas.

Andavam soltos pelas alas,

Pelas salas que ficaram ralas,

As crianças riam de dar gosto;

Os adultos, envergonhados,

Não tinham onde esconder as caras.

Os segredos mais sacanas

Vinham dos idílios; dos pais,

Das mães, das filhas e dos filhos.

Dos cemitérios, os sérios...

Revelavam-se vivas testemunhas

De torpeza e de adultérios.

Das casas dos juízes surgiam aos montes,

Mas não riam que nem condenados;

Eram segredos recalcados.

Da casinha da árvore, das bonecas,

Saíam dançando e pulando!

Eram os segredos mais sapecas.

Os políticos, nas tribunas, tinham

Todos caras de lula. Encabulavam

Até o capeta que viveu na feira.

Eram segredos ricos e cheios de pompa,

Mas traziam na bagagem

Toda a pobreza revelada e relevada.

Mostravam-se de mãos dadas

Com a verdade nua e crua

E, pasmem senhores, em plena praça;

E não atentavam contra nenhum pudor.

Da igreja, saltitante e felizes,

Saltavam os segredos da inquisição

Que a muito eram prisioneiros da fé.

Os padres e os pastores cavaram buracos

E colocaram suas cabeças, feito emas.

Mas esqueceram de cobrir as bundas.

Foi estampado nos anais, nos jornais,

E em tudo mais que havia,

Que as mulheres mais sérias,

Eram as que brincavam de madame Bovary.

Também vi meus sonhos medonhos,

Pareciam de brinquedo.

Mas dos meus segredos eu não pude rir.

carlinhos matogrosso
Enviado por carlinhos matogrosso em 26/10/2013
Reeditado em 27/10/2013
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