SUICÍDIO

As tintas se esparramam

Pelo chão

E minha alma

Se esvazia

Como o vidro

E negra é a tinta

Negro o espírito

O óleo esparrama

O descontentamento

Um clarão

Um raio

E a tempestade

Transforma tudo em trevas

A tarde escurece

Não posso ver

Nada

A não ser

A tinta

Gótica

Tão preta e fluida

Que resolvo pintar

O fundo preto

E as letras vermelhas

As luzes piscam

Então percebo

Que não há tinta vermelha

É meu próprio sangue

Que mancha a tela

Também não há pincel

É o punhal

Que cortou a garganta

Pende em minha mão suicida

Sinto formigamentos

E consigo vislumbrar

Outros pontos feridos

As chagas de Cristo

E no chão

Uma poça de sangue

Pingos molham meu vestido

E logo se misturam

À tinta

Ainda

Me lembro

De pegar

O pincel

E cravar

Na ferida

Pinto com sangue

Meu quadro derradeiro

Já anestesiada

Escrevo com obstinação

No quadro preto e vermelho

Última perdição:

Suicídio