QUASE MEU

É quase minha a certeza

da autonomia das folhas

que se desprendem, moles,

em cada outono prévio

em cada vento inverso

em cada verso interno

em cada averbação

É quase minha a destreza

na condução das nuvens

levemente tingidas de cinza

que pairam no pensamento

em cada passo incerto

em cada nó que aperto

em cada indecisão

É quase minha essa calma

diante de tantos fatos

ocultos atrás da porta

que, em superfície, relato

em cada linha torta

em cada letra morta

em cada exclamação

É quase meu esse espelho

diante desses olhos vermelhos

QUASE MEU – Lena Ferreira –