O espelho.


O espelho quebrou,
no seu corpo despedaçado,
em cada pedaço
uma cena diferente:
Um pequeno céu,
uma meia flor, 
meu olhar trincado,
vejo o bico do beija-flor do quadro
e o meu rosto em varias partes.
Os cacos espalhados
num quebra cabeça difícil,
juntar é impossível.
As paisagens eram sempre as mais belas,
não saíam pelas tabelas,
talvez fossem mais puras,
com sentimentos independentes,
tanto que os olhos
só viam os seus reflexos.
Era um espelho singelo,
não era o principal da casa,
por isso, acho que só eu o usava.
Gosto de fazer a barba na varanda,
às vezes ele era um perfeito retrovisor,
até pipas voadas ele me revelava
e já abanou, abanou, abanou o carvão para um churrasco.
Um quase mil e uma utilidades,
mas num descuido repentino,
quebrou-se aos meus pés.
Só me restou varre-lo,
joga-lo no lixo
e substitui-lo por outro.
Condor Azul
Enviado por Condor Azul em 10/06/2007
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