Canção dos desesperados

A canção dos desesperados

Dos aflitos, dos condenados

Dos condecorados pela intensa fraqueza

Fala de gente como você

Que se apega a pessoas como eu

Fala de gente como eu

Que carrega nas costas pessoas como você

Repete um refrão melancólico

Inúmeras vezes repetido

Em uma constante ladainha

Para que surdos como nós

Possam ouvir e se identificar na miséria

De que fala toda a letra

Abrindo os olhos e os poros

Para o que é imensurável

Intransponível e vai além

Das mãos atadas pelas mãos alheias

Das mãos tensionadas pelos músculos externos

Fechando os braços e a alma

Para o que comprime o peito e faz doer

A dor de mil toneladas leves

Como o ar carregado dos que padecem do amor,

Essa canção já não é triste

Pois não compactua com a intimidade degradante

De quem pode ouvi-la somente

Mas nunca será alegre

Nem foi feita pra ser lembrada

Pois quem a esquece sabe bem

Que se livrou da anti-vida

Celebrada em cada verso da poesia

Escrita por um cara infeliz

Que se revoltou com a situação dos que não choram

Dos que não lastimam, nem desconsolam

Por ter nos braços quem mais adora

E aqueles que a escutam

Pensam ser composição própria

Ou que a culpa é da existência do silêncio

Mas só há um acorde na melodia

E todos se desesperam em sentir

Que emerge apenas da consciência

Num uníssono ressonar de tambores

Como o movimento ritmado da respiração ofegante

E a batida frenética de um coração aflito...

Mar de Oliveira Campos
Enviado por Mar de Oliveira Campos em 03/10/2005
Código do texto: T56115