Canção dos desesperados
A canção dos desesperados
Dos aflitos, dos condenados
Dos condecorados pela intensa fraqueza
Fala de gente como você
Que se apega a pessoas como eu
Fala de gente como eu
Que carrega nas costas pessoas como você
Repete um refrão melancólico
Inúmeras vezes repetido
Em uma constante ladainha
Para que surdos como nós
Possam ouvir e se identificar na miséria
De que fala toda a letra
Abrindo os olhos e os poros
Para o que é imensurável
Intransponível e vai além
Das mãos atadas pelas mãos alheias
Das mãos tensionadas pelos músculos externos
Fechando os braços e a alma
Para o que comprime o peito e faz doer
A dor de mil toneladas leves
Como o ar carregado dos que padecem do amor,
Essa canção já não é triste
Pois não compactua com a intimidade degradante
De quem pode ouvi-la somente
Mas nunca será alegre
Nem foi feita pra ser lembrada
Pois quem a esquece sabe bem
Que se livrou da anti-vida
Celebrada em cada verso da poesia
Escrita por um cara infeliz
Que se revoltou com a situação dos que não choram
Dos que não lastimam, nem desconsolam
Por ter nos braços quem mais adora
E aqueles que a escutam
Pensam ser composição própria
Ou que a culpa é da existência do silêncio
Mas só há um acorde na melodia
E todos se desesperam em sentir
Que emerge apenas da consciência
Num uníssono ressonar de tambores
Como o movimento ritmado da respiração ofegante
E a batida frenética de um coração aflito...