O que quero que façam

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O que quero que façam - Henrique de Albuquerque

Queimem meus ossos,

incinerem meu coração,

me joguem em algum vaso

blindado

bem perto da solidão.

Todos os grandes agora caveiras são,

todos os nobres em poeira estão e

de seus olhos os vermes comeram,

e de seus ossos um castelo ergueram;

mas veja bem:

que mal tem

querer, sabendo disso,

que meus restos,

PODRES,

sejam assim diluídos

no encanto que agora reside a morte.

E que não terminem por aí

em bocas sedentas,

em bocas famintas,

em bocas distintas,

aquilo que eu ostentava quando jovem e,

infeliz, aceitava como velho.

Por favor,

que meus restos não sejam regurgitados na terra

pelos necrófagos,

tenho asco,

eles me m(c)astigam...

querem sentir meu amálgama em suas entranhas.

- Sinto que tudo que posso pedir é que me queimem,

essas bestas aguardam meus amados anualmente,

ensejando por seus olhos,

para que deles se saciem,

pitorescamente,

dessa carne fresca

que agora em cima de meu túmulo chora.

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Henrique de Albuquerque Mello
Enviado por Henrique de Albuquerque Mello em 27/11/2017
Reeditado em 26/10/2018
Código do texto: T6183480
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