ENCANTAMENTO
Cantei cantei
Quando me encantei
E me encantei como pude
E como me puderam
Encantar
Como pôde notável criatura
Com seu corpo de entidade cósmica
Dançante
Luzindo poeira tóxica
Olente
Vibrando músculos
E artérias de fluidos pulsantes
Entrelaçando-se lacivamente
Frente à meu olhar embriagado
Tão longe
Onde nem sabe-se
Que perto
Tão perto
Em mim!
Onde algo permanente se pôs
A cima da razão dos homens
A cima do firmamento
De plano algum
Pouco importante
No momento
E na presença do objeto carnal
De desejo incontido
Que faz-me clamar por um ensejo
Derradeiro.
Mas talvez a certeza única
Seja esta incerteza de nunca saber
Como pôde me encantar
A que me sorria
Desde o princípio
E agora
Vazia
Sorri
Não para mim
Que já nada encanto
E nada crio
Estando incrédulo
Ao preferir trocar
Estratégias de jogo
Ao invés de suor e saliva
E suspirar satisfeito
No fim
Não desejando limpar-se
Do que não cheira
Não se lava na pia
E nem pode-se ver:
A consciência reestabecida
Revelando a entrega irracional
Por necessidades do corpo
Que corrompem (ou revelam)
A essência do ser
Quando encantado e pleno
Em sua sede.