MONÓLOGO DO INTERIOR

falo por ti, objeto de mim,

induzo em nós os projetos desse elo,

procuro respostas no teu livro fechado,

esperança no mar morto do teu desejo,

loucura na igreja do diabo.

falo por ti, objeto de mim,

do ventre sombrio que procuras na noite,

sem teu fruto verde que geraste na inocência,

com maldades e risadas do pavor,

mil saudades na saudade da infância.

julga-me, açoita-me até os pulsos sangrarem,

condena-me pelo abandono da alfazema prateada!

sabes que não vivo por mim ou por ti,

e que brota um espelho nascido do meu nada.

falo por mim... agora... no momento de ser não ser tu,

que controlo teus anseios no desvario da insanidade,

tentando ver as diferenças sob um ângulo obtuso,

silenciando turbulências que pularam minha idade,

deixando-me à deriva no caos violento e confuso.

mas, falando por mim e por ti,

agradecemos por estarmos aqui,

dialogando nesta jornada solitária,

como bons amigos destinados ao silêncio,

presos às nossas regras e limites,

sedentos por mais imperfeição.