O MEU CARO ÓDIO
 
Assoma de uma dimensão profunda
E em mim, um ódio que não saberia descrever.
Parece-me, em princípio e enfim,
O ódio-mãe de todos os demais –
Um ódio mais que odioso e denso.
Um ódio sulfúrico e corrosivo;
Cianídrico, arsênico, letal ao extremo.
Um ódio Cracatoa, a vomitar as entranhas
Como lava sórdida, escorrendo lentamente,
A transformar o seu entorno em deserto pétreo,
Leito candente, contudo pleno de frustrar;
A expelir os seus maus fumos de ira infinita,
Em indignações entre o espanto e o pasmo.

Um ódio tsunami, que nada e nada detém;
Que mata de emboscada, mata, mata e revolta.
Um ódio fúria de todas as majestades,
Que eu queria que não passasse nunca,
Mas que fosse aumentando a cada estridor –
Um ódio que fosse crescendo, crescendo...
Um ódio invocado a Zeus fulminante;
A Hera desafeta e postada em urgido rancor.
Mais, que fosse um ódio soslaio de negro
Sublevado de ultraje e de desumanidade,
Sentidos não na chibata, mas na injúria cruel.
Há dois tipos de demônios, os meros mortais
E os hediondos, seletos e noturnos imortais –
Estes, inimigos fidalgos da luz e da razão --
Eu bem queria ser um destes infindáveis,
Para que o meu caro ódio não tivesse cessar.
 
05/08/2018