Um buraco no não

Ou talvez eu precise dos versos...

Há coisas que não podem ser ditas doutro modo

De tão profundas, não cabem

De tão frágeis, se quebrariam

De tantas, inundariam

De tão reais, queimariam

o papel, as retinas, os tímpanos, as mãos, os votos de eternidade, as felizes fotografias que - disseram - congelam recordações.

Eu preciso dos versos porque te ouvir ao telefone não basta,

Porque adivinhar as suas manhãs é pouco: eu quero penetra-las

Eu quero ser o cheiro do café que te trago até a cama, quero estar no seu cangote enquanto tenta se livrar da chuva no pára-brisas pra não bater o carro,

Quero ser o choque de não sei quantos mil volts sejam necessários pra mover o seu mundo de lugar, te fazer comprar uma kombi e viajar comigo por toda a superfície terrestre pra depois descobrirmos que somos também nossa própria terra.

Quero ser estes versos adolescentes que agora te escrevo

E que por si não dizem nada além da nossa metalinguagem cíclica e infinita que dá até vertigem com tantos pleonasmos

Mas que te dizem, meu bem, uma vez mais: eu não vou sair de ti.

(Novembro, 2011)

* Referência utilizada no título:

https://www.youtube.com/watch?v=0eTqsh_-gRY

Marina Borges
Enviado por Marina Borges em 30/01/2020
Reeditado em 23/04/2020
Código do texto: T6854148
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