Resto de Rosto
E meus olhos?
Verdes... Voluptuosos... Vorazes, velhos viajantes
Pelas baixadas do alto mar, navegantes
Límpidos, mas no oceano negro, nunca são vistos.
E dizem que são falsos, obscuros mitos.
E meus lábios?
Sedutores... Salgados... Sedentos, seres soturnos
Pelas baixadas do alto mar, monstros gritantes!
Sensuais, mas no oceano negro, nunca avistados
E dizem que são monstros descarnados.
E minhas narinas?
Lúgubres... Levianas... Leves, locais longíquos
Pelas baixadas do alto mar, náufragas
Lânguidas, mas no oceano negro, nunca utilizáveis
E dizem que só sentem os cheiros desagradáveis.
E meus cabelos?
Castanhos... Carregados... Cachecóis, cheirosos cacheados
Pelas baixadas do alto mar, aviadores
Cheios de cores, mas no oceano negro, só são ausentes.
E dizem que são frios, desgastados e carentes.
E minha gente?
Forte... Feliz... Ferozes feras que ficam
Pelas baixadas do alto mar, adormecidas
Familiares, mas no oceano negro, apenas um povão
Que dizem aguardar pelo fim da escuridão
E que a luz revele um rosto, uma revolução.