Oblíqua

No trançado entre as pernas

Pende os cabelos alongados

Da espera de um ventre

Deformado.

Pelas entranhas estranhas

Da carne que grita das suas

Costelas quebradas

Como bocarra de cetáceo.

A fúria dos olhos de serpentem

Que escarifica as órbitas oculares,

Como agulhas espetando

As pupilas para tatuá-las.

O medo é de não mais sentir

Esse pânico de estar contigo,

Um pesadelo inebriante

De motivos antropofágicos.

O corpo é carcomido pelo

Traçado de suas mandíbulas-traças,

Que digere e expele os restos

Inaproveitáveis desse sujeito-lixo.

Teu sexo guilhotina memórias-fálicas,

Esculpindo o teatro da carne sobre

O fóssil do patriarcado corroído

Pela sua própria inutilidade.

Nos teus seios o licor de sangue

Visceral que transborda em jorros

De carne decomposta,

Criando a fonte de morte-viva.

Peça a peça, esquartejando,

Pedaço a pedaço dos falsos

Organismos centrados.

Fragmentando o mundo aos seus pés

Com salto fino que irá pisar no olho do absurdo.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 17/01/2021
Reeditado em 17/01/2021
Código do texto: T7161920
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