Vontade

Toma-me

No canto da casa, na soleira da porta

Frenesi de minuto, ânsia guardada, toma-me!

Faz da pedra a casa do ventre, toma-me de banda

Rasga-me a carne, despe as entranhas

Viaja no seio, penetra os vazios

Arrasa-me

Arrasta-me os pelos, pinga o suor na fronte

Cuspa fora os desejos, queima-me a pele

Aperta o pescoço, me rende

Apaga teu cigarro

Sufoca-me

Devora-me, enche-me a boca de mel

Deixa-me nua no cosmos dos amantes

Vai-te

Veste as calças e rouba a lua para os olhos meus

Volta inquieto, geme um nome feio

Arranca-me as vestes aos dentes

Toma-me

Meu corpo é lago, onde tu guardas teus segredos.