A Loja de Penhores

Me dissolvestes como um pai

É melhor do que dissuadir cigarras

A não me encontrarem mais

Meu corpo não as suporta

Venha, apoie-se nessas amenidades

Nesse castelo de plástico descartado

Confessa o nome imortal

Que sempre te faz esmorecer

As vozes se entrecortam

Todas as vezes que encontram meu corpo

Como um mapa do ódio cada uma delas

Escolhe sua capital a partir dos meus membros

Um cinema expondo todos os fardos que travei

Todas as belezas que envenenei de olhos abertos

Todos os momentos que perdi bancando um rival

Todas as vezes que me mascarei entre viúvas

Algum dia pintarei meu rosto de um azul púrpura

Com as minhas próprias mãos

E o resto do meu corpo eu guardo a você

Que possa o amanhece em vermelho sangue pisado

Eu não tenho mais discernimento

O que é atributo? Qual paixão da vez?

O que faz o pudor um deus tão infame?

Quando se interdita a satisfação?

Os deveres do mundo memorizam tragédias

E agora querem o inferno na palma da mão

Por tédio nefasto, por fetiche cordial

Vislumbrar a fragilidade humana a distâncias seguras

Sou ator, sou teatro, sou médium

Eu incorporo vaidades em mim

Sou pacto, sou mentira, sou intermédio

Para que alguém queira me habitar

Pierrot Ruivo
Enviado por Pierrot Ruivo em 23/11/2023
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