TORTURA

tu não ouves porra nenhuma do que estou tentando te dizer

eu sou o calafrio que corre pelo teu nariz quando você está raspando pelinhos recém-

nascidos do rosto

eu sou o friozinho na tua barriga enquanto escova os dentes antes de o sol nascer e não

percebe que há algo estranho

eu sou a pontada aguda em teu peito que você não sabe de onde veio quando bebe teu

cafezinho forte demais para um homem tão forte demais a ponto de não perceber quem

sou ou o que sou

enquanto a manhã não clareia

e parece durar uma eternidade e

você nota que não há nada a pensar neste meio tempo e em qualquer lugar

e já louco estranho você olha fixo e desfocado para a penumbra do teto

eu sou o fogo que acende em tua mente e desce vivo-vibrante por tuas veias e você

pensa: até quando prosseguirei com esta mentira?

e os pensamentos se confundem no meio de uma ventania

folhas avulsas de manuscritos há muito não lidos que voam aturdidas e o dia cinza que

parece nunca acabar

eu sou a tontura

eu sou a tortura

que te assola ao caminhar pela rua enquanto percebe

que foi enganado

Samuel Perim Sena
Enviado por Samuel Perim Sena em 31/12/2023
Código do texto: T7965590
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