Gritos
Olho-me ao espelho...
Reflicto a minha alma, reflicto quem sou.
Alguém me olha...
vê o que pensa e o que não dou.
Procura-me, persegue-me,
e verás, no meu espelho,
onde me escondo
e o que perdes por não me achar...
Corro, tropeço, levanto-me...
Escorrego, choro, ergo-me...
Grito, fujo, reapareço...
E amo...
Deito-me, adormeço e sonho.
Acordo e adormeço de novo.
Acordo e não me apetece viver.
Levanto-me e apetece-me desaparecer...
Escondo-me debaixo
da mesa, da cama, do sofá...
Recordo que fugindo não dá.
Corto o cabelo e arrependo-me...
Tomo um banho relaxante
do qual saio a chorar.
Telefono e não está.
Então, vou até lá.
Toco... não responde!
Subo pelas paredes.
Mais uma vez, escondo-me.
Encontram-me estendida e hirta
no chão de uma nuvem.
Acordo e penso que estou,
de novo, a sonhar.
Não estou.
Desejosa de alguém,
fujo, tropeço, levanto-me,
sigo na direcção errada.
Mas, graças a isso, encontro.
Engano-me!
Fecho-me a ouvir música muito alta
para poder gritar sem que me ouçam...
Mas ouvem!
Correm... em vão.
Olho-me as espelho,
gosto do que vejo,
não gosto do que vivo.
Pego numa tesoura,
pouso a tesoura.
Dispo-me, choro,
escrevo, acaricio-me...
E volto a pegar na tesoura,
cravo-a em mim, adormeço...
e continuo a sonhar.