Baú
Olho para dentro...
Sou um baú cheio de tralha,
saciada, insatisfeita.
Possuo os elementos
sem conseguir uni-los
de modo coerente.
Finjo bem mas sinto mal,
sinto o que sinto não atingir,
não conseguir concretizar.
Chamo-o, chamo-o, chamo-o...
Não estão cá, comigo.
Estão cá dentro, inalcançáveis
e incansáveis no meu coração.
Encontro as memórias,
sujas de pó.
Limpo, limpo...
E continuo sem ver claramente,
tudo é turvo...
No fundo do baú
existe a esperança,
que sai ilesa da sujidade.
Valor?
A diferença pode ser feita por mim,
mas nunca é vista
por todos na sua essência.
Nada é visto como é,
tal como um baú
que protege memórias
e sentimentos poeirentos
da realidade.
Só no fundo existe
o que é puro
e duro de mostrar.
A máscara que protege da desilusão
é a mentira que mostra a ilusão.
E, em tudo isto,
a realidade é um sonho,
sonho, este, inalcançável...
E desfeito por todos.
E não existe esforço possível
que possibilite este sonho,
tal como todos os sonhos
que são ilusões guardadas num baú...
Que mais tarde são revistos
e lamentados e aplaudidos
por estar saciada, insatisfeita...