Espírito abalado

Por onde vagueias tu, espírito malvado,

Que foges de mim?...

Volta atrás e ama-me,

Com a voraz robustez da tua ruindade…

Incendeia o meu génio,

Esfaqueia a bondade,

Encandeia a humanidade,

Para que eu possa fingir ingénua,

Pena do próximo,

Para que recupere o que nunca foi meu.

Nunca te conheci,

Mas sei que passeias por aí,

Nas prostitutas da noite,

De dia mães de família,

Nas igrejas, no amor, na saudade,

Na felicidade do homem cego.

Vem e viola-me sem vontade,

Que eu não me importo.

Pego na tua imagem, e imagino…

Que destino não domino eu.

Não é devaneio, é certeza.

Consome-me no chão,

Na cama, na mesa…

Faz de mim a tua fantasia,

Que a ti serei devota.

Volta, espírito maldito,

Em ti, acredito, porque te vi…

Corrói a minha alma, pensamento,

O meu coração, meu tormento,

O meu pequeno corpo

Desprovido de esperança,

E quase de criança, que ainda sou.

Não me leves à loucura,

Porque de louca muito tenho,

Leva-me à morte interior,

Se, por sorte, ainda me encontrares viva.

19 De Dezembro de 2005