[Ato XVI] Que Recolho

O baobá era uma menina,

Belíssima de candura e infantil.

Um presente que recebi e toste

no jardim do terraço o coloquei.

Dou uma piscada e rapto - árvore.

Que domina tardígrado meu lar.

Deixei. A simpatia p'lo chiado

raucíssono e folhudo e o soprano

das aves... Fez-me render-lhe a casa

p'ra reinar com sua própria selva.

Que ocupou tardígrado minh' vida.

Transformou-me numa claustrófoba.

Entregue à selvagem natura,

lutava p'lo calor de uma toca.

No baobá trepa minha repulsa.

Trepa nele minha hera d'ódio

que, na carnosidade do tronco,

machada, nas raízes - dentada,

unha a casca... Há só o tentador

grão agora que, na mão, recolho.

(CaosCidade Maravilhosa, 5 de junho de 2007. Este poema pertence ao meu projeto "Marina em Poesia".)