[Ato XVII] Um Poema de Amor
Como uma cacarejante galinha
e com presos os pés trazida a casa,
meu marido deu-me a pelagem viva
representada por um par de martas.
Experimentei-as, mas eram selvagens.
Analisei dos pêlos a virtude,
que eu desfrutaria, uma macia lustragem.
Cevá-las, prendê-las na solitude.
Com zelo, na madeira pregou as patas.
Comem elas, como eu. Engordávamos.
Uma luz deixava-as sempre acordadas.
Eu co'as noites de amor. Desdormíamos.
Apequenavam-se jaula e cama.
Uma faleceu. A outra, folgada,
Tomou seu lugar de única dama.
O tempo posto em fartas colheradas.
Falecida a última dama também.
Meu esposo chega perto de mim então,
apaixonado e zeloso... São reféns
do nosso leito minhas pregadas mãos.
(CaosCidade Maravilhosa, 12 de junho de 2007. Este poema pertence ao meu projeto "Marina em Poesia".)