DESVARIO
I
Eu preciso te explicar
Uma coisa muito séria
Às vezes não consigo me controlar
E meu cérebro sai de férias
II
De vez em quando fico nervosa
Com algum acontecimento
Não consigo prosseguir a prosa
Foge-me o conhecimento
III
Digo tantas bobagens
Incoerências sem fim
Minha inteligência em viagem
Não reconheço a mim
IV
Minto inocentemente
Esqueço os meus padrões
Ofendo-te arduamente
Perco as noções
V
Posso agredir seu corpo
E também seu coração
Violentar-te todo
Perder de vez a razão
VI
E no meio do surto
Posso desfalecer
Ter os sentidos em furto
Não te reconhecer
VII
Ultimamente tenho piorado
Estou ficando doente
As crises do passado
Repetem-se no presente
VIII
Quando me percebo assim
Tenho vontade de chorar
Preciso então dormir
E colo para acalmar
IX
Pode ser problema nervoso
Ou questão cerebral
Só sei que não é gostoso
E que isso me faz mal
X
Assim que eu tiver condições
Procurarei tratamento
Para não ferir nossos corações
Nunca mais esse tormento
XI
Pois quando isso me acomete
Crio tantos conflitos
Que a eternidade seria breve
Para consertar meus delitos
XII
Arrependo-me imensuravelmente
Reconheço minha culpa
Rogo-lhe incansavelmente
Tuas piedosas desculpas
XIII
Difícil foi perceber
Esse delicado problema
Tal qual reconhecer
Seguiu o mesmo esquema
XIV
Escrevo-lhe ao invés de falar
Pois mais dominados
E não voam no ar
Os fonemas grafados
XV
Não peço sua compreensão
Nem eu disto entendo
Mas se eu obtivesse seu perdão
Seria um divino acalento
(MCMXCVI)