A DESPEDIDA
 
Queria me despedir de todos,
Mas não sabia a ocasião certa,
Como se alguém a soubesse,
Como somos ingênuos nessas horas,
Como somos incertos e tolos.
Temos por tanto tempo uma porta,
Aí limitamo-nos como se não coubesse
Nosso orgulho, a dor, as lágrimas, a demora.
Queria me despedir daquela menina
Que tanto me amou, mas não a escolhi,
Sabia por seus olhares, seus cuidados,
Era amor, não havia preocupação, ansiedade,
Era tudo tão simples, era de verdade.
Queria também me despedir da garota que amei,
E ela justa, também não me escolheu,
Seus interesses eram iguais aos meus,
Não tinha compromisso, era Orfeu.
Queria me despedir de meus amigos,
Eram tantos, uns grandes, outros nem tanto,
Mas eram amigos, então havia encanto,
Eram aventureiros, sonhadores, conselheiros,
Deixei alguns pelo caminho, não sei quantos.
Queria me despedir dos amigos do trabalho,
Como são fieis e infiéis estes amigos,
Cada um guarda um pouco de veneno,
Na espreita aguarda a hora certa,
E na primeira oportunidade te elogia.
Queria me despedir dos meus vizinhos,
Como são prestativos e sinceros,
Como torcem para que você passe por desgosto,
Só para te oferecer um chá, um café amargo,
E depois com um sorriso largo dizer:
 - Quer mais açúcar ou está doce?!
Queria me despedir dos desconhecidos,
Aqueles que conhecemos apenas por olhares,
Trocados nas ruas, transportes públicos,
Em qualquer lugar.
Queria me despedir de minha família,
Da mulher que me suportou, de outra que nem sei.
Pais, irmãos, tios, tias, avôs, avós, filhos e netos.
Queria nesse momento provar de suas lágrimas,
Encharcar minha alma, embebedar meu espectro,
Chegar no céu cambaleando, sem chapéu.
Léo Pajeú Léo Bargom Leonires
Enviado por Léo Pajeú Léo Bargom Leonires em 15/02/2016
Código do texto: T5544841
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