Bico de pena

Bico de pena, o que me pedes,

bico de pena?

Que eu te afague com minha mão poética?

Nem a métrica o teu poema mede

nem a rima dá medida certa.

Bico de pena, com efeito

estás a me pedir demais.

Contigo estou a perder-te o jeito

que o jeito tinha um tempinho atrás.

Queres tu vasculhar-me o peito

e arrancar do moribundo leito

o que já triste e de silêncio jaz.

Ah, bico de pena,

deixa-me ir e vai-te em paz.

Nem mais crio nem faço arranjo

nesta terra tão pequena.

Minh’alma que agora acena,

das penas do próprio anjo

escreverá teus poemas.

José Freire Pontes
Enviado por José Freire Pontes em 02/02/2017
Reeditado em 15/04/2020
Código do texto: T5900437
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