Bico de pena
Bico de pena, o que me pedes,
bico de pena?
Que eu te afague com minha mão poética?
Nem a métrica o teu poema mede
nem a rima dá medida certa.
Bico de pena, com efeito
estás a me pedir demais.
Contigo estou a perder-te o jeito
que o jeito tinha um tempinho atrás.
Queres tu vasculhar-me o peito
e arrancar do moribundo leito
o que já triste e de silêncio jaz.
Ah, bico de pena,
deixa-me ir e vai-te em paz.
Nem mais crio nem faço arranjo
nesta terra tão pequena.
Minh’alma que agora acena,
das penas do próprio anjo
escreverá teus poemas.